Literatura e Turismo

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 Eine Waldpartie auf dem Corcovado [Uma excursão ao Corcovado] , 1817 , Thomas Ender

Turismo cultural, intelectual e literário

O turismo cultural, nas suas vertentes de turismo literário e intelectual, contribui de forma decisiva para o desenvolvimento económico e social (Marujo, 2015: 6), tendo em conta que nas últimas décadas a vertente cultural se converteu, em Portugal e noutros países europeus, em “estratégia de regeneração” económica (Richards, 1996:31). Se é certo que, cada vez mais, se procura a autenticidade artística, gastronómica, linguística ou arquitectónica, também é verdade que o turismo cultural é, hoje, um segmento de mercado de massas, centrado no consumo de produtos culturais. Na abrangente e multifacetada definição de turismo cultural, Greg Richards oferece-nos a seguinte proposta:

  “The movement of persons to cultural attractions away from their normal place of residence, with the intention to gather new information and experiences to satisfy their cultural needs” (Richards, 1996). “According to this conceptual definition, cultural tourism covers not just the consumption of the cultural products of the past, but also of contemporary culture or the ‘way of life’ of a people or region. Cultural tourism can therefore be seen as covering both ‘heritage tourism’ (related to artefacts of the past) and ‘arts tourism’ (related to contemporary cultural production)” (Richards, 2003)[1].

“Heritage tourism” ocupa-se, deste modo, da preservação da memória, entendida simultaneamente, quer como arquivo, individual e coletivo (Foucault, Deleuze, Derrida), com os seus recursos culturais, históricos e naturais, quer como experiência de lugares, artefactos e atividades a que se associa um conjunto de processos dinâmicos, de seleção, conservação e transmissão de objetos com valor histórico. A herança cultural de um povo deve ser, acima de tudo, um espaço de reescrita, reconstituindo através das “narrativas de lugar” – “Place narratives” (Richards e Marques, 2014), os factos e os usos do passado para mobilizar novas relações coletivas da memória[2].

Por seu lado, o turismo cultural acolhe em si as vertentes de turismo literário e de turismo intelectual. O primeiro, dedica-se à promoção, tanto da vida dos autores e sua produção literária e artística (Mendes, 2007; Herbert, 2001), como dos lugares e eventos mencionados nas narrativas de ficção ou representados nas artes plásticas[3]. Já o turismo intelectual definido, de igual modo, como turismo educacional, com extensão ao turismo pedagógico[4], é praticado por aqueles que se deslocam a outro país para formação ou participação em eventos científicos e que, nessa circunstancia, consomem produtos culturais (Herbert, 2001). Estas duas variantes singulares do turismo cultural têm sofrido, sobretudo, nas ultimas duas décadas, um impulso significativo, como consequência direta, quer da política de museus, bibliotecas e arquivos, quer da crescente valorização da literatura, dos autores que a produzem e do contexto histórico e social que condicionou ou estimulou a sua criação literária.

[1] O autor propõe, ainda, dois enfoques, em articulação, no que toca ao turismo cultural, entendendo-o como processo e como produto. O primeiro, proveniente da Antropologia e da Sociologia, remete para os códigos de conduta de um grupo social, enquanto que o segundo, oriundo da crítica literária, entende a cultura como resultado de uma atividade individual ou de grupo, com determinados significados a que os museus, os monumentos, bibliotecas e arquivos dão expressão (Richards, 2003).

[2] Segundo Bidaki e Hosseini, na era pós-moderna, onde escasseia a meta-narrativa, a preservação e divulgação dos equipamentos culturais, como conservadores da memória, contribuem para o resgate e para a preservação da história das comunidades em crise de identidade (2014: 2).

[3] As principais cidades europeias- Paris, Veneza, Londres, Roma e Nova York nos EUA, com reconhecido background cultural, possuem tradição oitocentista no que diz respeito ao interesse público pelos túmulos de figuras literárias, como recorda Bidaki/Hosseini, (2014: 3).

[4] Edutourism é definido no Travel Industry Diccionary  como 1. Recreational travel undertaken solely or partially for the purpose of study, self-improvement or intellectual stimulation. 2. Travel to attend schools, universities, or other educational opportunities. Also called intellectual tourism”. In The Intrepid Traveller, 2013, consultado a 27 outubro 2016. http://www.travel-industry-dictionary.com/intellectual-tourism.html

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